Participando do Projeto Escrevivendo Memórias, na Casa das Rosas, recebi, como todos os participantes, a missão, diga-se dever de casa, de escrever uma descrição de mim mesmo que pudesse servir como abertura de um blog. Eu que já não escrevo nada, fiquei cheio de receio e esse receio tornou-se pânico quando me deparei com os escritos dos demais participantes. Então é melhor desistir, argumentei comigo mesmo. Jamais serei capaz de escrever algo assim. No entanto, se eu desistir, perderei a oportunidade de compartilhar os belos trabalhos dos outros. Resolvi então escrever.
Aqui, o Eu que escreve vai tentar falar algo sobre o Outro do qual escreve. Começo dizendo que Ele é uma pessoa cheia de memórias. Memórias passadas que retornam à sua infância, época em que brincava debaixo das mangueiras e tomava banho no pequeno riacho, época que pescava, caçava e tinha gaiolas. Cresceu um pouco e, diga-se de passagem, que foi pouco mesmo, chegou a hora de ir à escola. Lá fez novas amizades e deslumbrou um horizonte cheio de indefinições. Foi também na escola onde deu o primeiro beijo, uma sensação incrível de liberdade e afirmação. Terminando o primeiro ciclo, teve que mudar de escola, foi estudar longe de casa em uma escola grande. Novos professores, novos amigos e, principalmente, novos desafios. Lá teve as primeiras aulas de laboratório. Nossa! Como é inteligente essa professora! Não assistia à aula, vislumbrava a fala, os gestos, a roupa, os calçados da professora. Não ouvia sua voz, aquilo era mais um canto que o embalava e o deixava em estado de êxtase total. Foi nesse período que começou a colecionar álbuns de figurinhas e a ler as revistas do Zorro, e do Tex Willer e algumas, digamos, proibidas para sua idade.
Chegou a hora de ingressar no ensino médio, digo, no científico e de trabalhar. Aí surgiram os primeiros contatos com as noites e as farras joviais. Toda sexta-feira era dia de encontros com a sua turma. Muita cerveja e muito papo. Veio também o danado do cigarro. É tão difícil parar de fumar. Quando se deu conta estava na universidade. Lá namorou, casou e teve dois filhos. Foi um sofrimento terrível, separou-se e saiu pelo mundo afora em busca de novas aventuras.
Bem, vou falar agora um pouco sobre as memórias presentes, que são aquelas que o trazem ao contexto atual, que é uma eterna busca de novas afirmações. Nessa memória atual cabem principalmente seus filhos, pais e alguns poucos amigos. Foram seus pais que o impulsionaram em seus primeiros passos, ensinando-lhe a percepção de moral e ética, fraternidade e amor ao próximo, a lutar e a descobrir que o sol nasce para todos, embora muitos prefiram viver à sombra da vida. Poucas vezes Ele conversou com seu pai, no entanto o pouco lhe valeu muito. Já a memória que seus filhos lhe trazem é aquela que ensina que não basta aprender. Para ter continuidade deve-se travar uma nova luta a cada dia. Tem de interagir com o ambiente e com as pessoas. Deve-se construir outro seio familiar, o seu, e inseri-lo na sociedade da melhor forma possível. Melhorar o que aprendeu e compartilhar com os seus. É através dos filhos que se pode refletir sobre os erros que cometeu com seus pais e sobre que atitudes se devem tomar diante de cada situação nova. Um filho não é um simples troféu a ser exposto, mas mesmo assim deve ser “polido” a cada dia para que possa se tornar jóia rara.
Suas memórias futuras são as de hoje, pois estas são apenas projetos daquilo que Ele pretende ser, afirmados sobre reflexões acerca das memórias passadas e presentes ansiando um futuro presente que não sabe se virá. É essa memória que talvez Ele seja agora. E quais são minhas memórias? Minhas memórias são tudo que me fizeram relembrar estes aspectos da vida do Outro. É o estar aqui e ir mais longe, é o ir e voltar sem sair do lugar, preparando-se para que o Outro tenha melhores lembranças no futuro.
Além desses dois, existem vários outros Eus. Quais as memórias Desse que vocês vêem? Essa Eu não posso narrar sozinho, digam vocês mesmos. Pois afinal quem sou Eu? Não sei. O que podemos dizer é que somos Alguém que acredita que este mundo pode ser melhor, e será só depende de nossos Eus.
Meus Eus têm um armário cheio de arquivos do passado que são abertos de vez em quando em busca de explicações sobre o que foi e o que poderia ter sido se tivesse agido de outra maneira. Outro com arquivos que são preenchidos a cada dia com ações presentes e um terceiro, cheio de pastas vazias que serão preenchidas futuramente com as memórias que estão por vir.
Não temos medo do que seremos, mas nos apavoramos de medo daquilo que jamais poderemos ser. Somos felizes embora não vivamos sempre a sorrir. Choramos para desafogar as tristezas e aliviar a alma abrindo espaço para novas experiências. Cantamos a alegria e o prazer de estarmos aqui, se estivéssemos em outro lugar talvez chorássemos pela falta que esta vida nos faria. Vemos a vida como um torneio de futebol, se estamos na segunda divisão é por pouco tempo, não temos dúvida que seremos promovidos à primeira. Não somos melhores do que ninguém, mas com certeza somos melhores do que muitos, pois sonhamos sonhos que jamais serão sonhados por todos, sonhos que serão só nossos e sonhos que só serão nossos se sonhados com os outros. Sonhos são diferentes de devaneios, embora possamos estar delirando. Mas se nossa vida é um delírio para muitos, para Nós é um sonho que merece ser sonhado a cada instante. Quem sonha tem liberdade e quem é liberto pode sonhar sonhos melhores.
Então nos diga agora quem somos Nós, pois Nós mesmos não sabemos.
Aqui, o Eu que escreve vai tentar falar algo sobre o Outro do qual escreve. Começo dizendo que Ele é uma pessoa cheia de memórias. Memórias passadas que retornam à sua infância, época em que brincava debaixo das mangueiras e tomava banho no pequeno riacho, época que pescava, caçava e tinha gaiolas. Cresceu um pouco e, diga-se de passagem, que foi pouco mesmo, chegou a hora de ir à escola. Lá fez novas amizades e deslumbrou um horizonte cheio de indefinições. Foi também na escola onde deu o primeiro beijo, uma sensação incrível de liberdade e afirmação. Terminando o primeiro ciclo, teve que mudar de escola, foi estudar longe de casa em uma escola grande. Novos professores, novos amigos e, principalmente, novos desafios. Lá teve as primeiras aulas de laboratório. Nossa! Como é inteligente essa professora! Não assistia à aula, vislumbrava a fala, os gestos, a roupa, os calçados da professora. Não ouvia sua voz, aquilo era mais um canto que o embalava e o deixava em estado de êxtase total. Foi nesse período que começou a colecionar álbuns de figurinhas e a ler as revistas do Zorro, e do Tex Willer e algumas, digamos, proibidas para sua idade.
Chegou a hora de ingressar no ensino médio, digo, no científico e de trabalhar. Aí surgiram os primeiros contatos com as noites e as farras joviais. Toda sexta-feira era dia de encontros com a sua turma. Muita cerveja e muito papo. Veio também o danado do cigarro. É tão difícil parar de fumar. Quando se deu conta estava na universidade. Lá namorou, casou e teve dois filhos. Foi um sofrimento terrível, separou-se e saiu pelo mundo afora em busca de novas aventuras.
Bem, vou falar agora um pouco sobre as memórias presentes, que são aquelas que o trazem ao contexto atual, que é uma eterna busca de novas afirmações. Nessa memória atual cabem principalmente seus filhos, pais e alguns poucos amigos. Foram seus pais que o impulsionaram em seus primeiros passos, ensinando-lhe a percepção de moral e ética, fraternidade e amor ao próximo, a lutar e a descobrir que o sol nasce para todos, embora muitos prefiram viver à sombra da vida. Poucas vezes Ele conversou com seu pai, no entanto o pouco lhe valeu muito. Já a memória que seus filhos lhe trazem é aquela que ensina que não basta aprender. Para ter continuidade deve-se travar uma nova luta a cada dia. Tem de interagir com o ambiente e com as pessoas. Deve-se construir outro seio familiar, o seu, e inseri-lo na sociedade da melhor forma possível. Melhorar o que aprendeu e compartilhar com os seus. É através dos filhos que se pode refletir sobre os erros que cometeu com seus pais e sobre que atitudes se devem tomar diante de cada situação nova. Um filho não é um simples troféu a ser exposto, mas mesmo assim deve ser “polido” a cada dia para que possa se tornar jóia rara.
Suas memórias futuras são as de hoje, pois estas são apenas projetos daquilo que Ele pretende ser, afirmados sobre reflexões acerca das memórias passadas e presentes ansiando um futuro presente que não sabe se virá. É essa memória que talvez Ele seja agora. E quais são minhas memórias? Minhas memórias são tudo que me fizeram relembrar estes aspectos da vida do Outro. É o estar aqui e ir mais longe, é o ir e voltar sem sair do lugar, preparando-se para que o Outro tenha melhores lembranças no futuro.
Além desses dois, existem vários outros Eus. Quais as memórias Desse que vocês vêem? Essa Eu não posso narrar sozinho, digam vocês mesmos. Pois afinal quem sou Eu? Não sei. O que podemos dizer é que somos Alguém que acredita que este mundo pode ser melhor, e será só depende de nossos Eus.
Meus Eus têm um armário cheio de arquivos do passado que são abertos de vez em quando em busca de explicações sobre o que foi e o que poderia ter sido se tivesse agido de outra maneira. Outro com arquivos que são preenchidos a cada dia com ações presentes e um terceiro, cheio de pastas vazias que serão preenchidas futuramente com as memórias que estão por vir.
Não temos medo do que seremos, mas nos apavoramos de medo daquilo que jamais poderemos ser. Somos felizes embora não vivamos sempre a sorrir. Choramos para desafogar as tristezas e aliviar a alma abrindo espaço para novas experiências. Cantamos a alegria e o prazer de estarmos aqui, se estivéssemos em outro lugar talvez chorássemos pela falta que esta vida nos faria. Vemos a vida como um torneio de futebol, se estamos na segunda divisão é por pouco tempo, não temos dúvida que seremos promovidos à primeira. Não somos melhores do que ninguém, mas com certeza somos melhores do que muitos, pois sonhamos sonhos que jamais serão sonhados por todos, sonhos que serão só nossos e sonhos que só serão nossos se sonhados com os outros. Sonhos são diferentes de devaneios, embora possamos estar delirando. Mas se nossa vida é um delírio para muitos, para Nós é um sonho que merece ser sonhado a cada instante. Quem sonha tem liberdade e quem é liberto pode sonhar sonhos melhores.
Então nos diga agora quem somos Nós, pois Nós mesmos não sabemos.
Um comentário:
Nós somos amigos! E gosto de ler seu 'bloguinho'.
Beijos da Karen do Escrevivendo.
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