sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Amor cachorro


E lá vem ela! Livre, solta, correndo contra o vento, quando, de repente, o encontra. Ele acabara de sair do chuveiro e estava a passeio pela pracinha, apenas para exercitar-se, sem a menor pretensão de encontrar alguém. Mas, enfim, encontrou Cristal, jovem clara, delicada e sensual, olhos pretos e brilhantes, lábios vermelhos e sedosos, capazes de refletir a luz. Ele se chamava Sheick, um moreno chocolate glamoroso e vaidoso, cheio de charme. Tinha cabelos rebeldes, como a maioria dos jovens.
Sem expressar uma só palavra, aproximam-se e fitam-se nos olhos. É amor à primeira vista. Um amor tão intenso que ali mesmo, sem a menor cerimônia, começam a rolar na grama. Correm, pulam sobre os bancos da praça. Roçam seus corpos viçosos e sedentos.
Soraya fita-os e pensa: "Como são felizes!"
Bruna olha e diz:
- Nunca vi Cristal tão alegre assim!
Eles combinam que a partir deste instante, este será o local de seus encontros e começam a planejar um futuro feliz, com casa, filhos, enfim, tudo o que um casal apaixonado pode imaginar.
Eis que de repente se ouve o grito de Soraya:
- Vem, Sheick! Ah, cachorro danado, acabei de banhá-lo e olha só como está!
- Vem, Cristal! - chama Bruna.
E cada um volta para sua coleira e sai cabisbaixo, olhando-se mutuamente. Mas, antes de partirem, eles combinam um próximo encontro, a sós, durante a noite, quando poderão ficar à vontade. Após varias tentativas, conseguem se encontrar novamente na pracinha do condominio. Agora livre para viverem aquele intenso amor.
Desse amor repentino, nascem Cornellius e Gauss.
E então chega o dia em que Sheick vai morar em outro bairro, Cornellius parte para morar com Nilda, Gauss vai fazer companhia a Dolores. E a pobre Cristal fica amargando a solidão, revivendo em seus pensamentos, um feliz amor cachorro.

sábado, 6 de setembro de 2008

Minha genealogia está em mim

Falar de família... Vou pensar um pouco. Quais as raízes de minha família? Afinal sou descendente de que raça?
Tudo que sei sobre meus antepassados são pequenos detalhes. Segundo o que andei ouvindo, meu bisavô paterno, Ignácio, pai de minha avó, era um homem muito rico. Não sei se isso é verdade, mas o certo é que cada um de seus sete filhos herdou uma casa de engenho e outra de farinha, além de muitas terras. Na época isso era muito valioso. Era tanta terra que se media em léguas. Disso tenho certeza, pois até hoje minha tia Matilde, prima de meu pai, é dona de uma pequena porção dessas terras e, além disso, eu lembro que me perdia indo da casa dos pais de meu pai para a casa dos pais de minha mãe. E quanto à casa de farinha e ao engenho de cana, eu também vi e cheguei até a brincar entre as moendas. Produzia-se farinha, mel, rapadura, alfenim e cachaça, é claro. Hoje, parte dessas terras pertence à igreja.
Quanto a Ignácio, era um senhor de engenho à moda da época, com escravos e tudo mais. Sabe-se que ele deu a meu avô, como dote, uma bacia cheia de moedas de ouro. Meu avô vivia a reclamar da sorte; dizia que fora criado por sua avó, segundo ele, uma velha chata e rigorosa. Na verdade, a reclamação era apenas uma forma de lamentar o “leite derramado”, pois já o conheci pobre e tendo que trabalhar muito para poder sobreviver. O dote fora gasto com farras.
A respeito dos avós de minha mãe, nada sei. O fato é que ao completar dois anos de idade, sua mãe, Raimunda, morre de parto e ela passa então a ser criada por sua madrinha, que por sinal é irmã da mãe de meu pai. Isso causou certo afastamento de seus parentes, mas, por outro lado, permitiu que eu e meus irmãos desfrutássemos de três avôs e de duas avós.
Nasci na antiga casa grande, herdada pela mãe Isaura, mãe de meu pai. Era por pai e mãe que todos os netos se referiam a nossos avós. O casarão enorme, de pedras e tijolos crus, com uma calçada alta, fora construído por escravos. Como era muito grande, após o casamento, meu pai continuou a morar por lá, onde nasci.
Meu pai se chama Osvaldo e meus tios são: Eduardo (in memoriam), Antônio Cícero, Chagas, Sebastião (in memoriam), Edi, Francisca, Joana e Nilce.
As boas lembranças do casarão são tantas que tenho medo de serem apenas memórias daquilo que gostaria de ter hoje. Era ao redor da mesa grande que todos sentavam, à noite após o jantar, para tomar café torrado e coado, feito em um fogão a lenha e ouvir a Voz do Brasil através de um rádio jaboti da Semp Toshiba.
Por dentro das terras de meus avôs passavam dois riachos que enchiam de vida as plantações de batata doce e o canavial. Foi num desses riachos que aprendi a pescar de facho e facão. Facho é uma espécie de tocha feita com bagaço de cana.
Saíamos à noite com uma tocha na mão e um facão na outra. Adentrávamos no riacho e ficávamos observando os peixes. Quando estes se aproximavam, tentávamos golpeá-los com o facão. Isso era mais uma brincadeira do que uma pescaria de verdade, servia para amedrontar as crianças e “testar” a virilidade dos jovens. Mas era divertido, ah isso era!
Chega! Não vou mais falar sobre minha família. Vou falar apenas de algumas de minhas aventuras de infância e adolescência. Sobre a família eu falo depois.
Nasci em terras “banhadas” por dois riachos, onde se plantava cana-de-açúcar, batata, mandioca e mamona. Criavam-se bodes e algumas cabeças de gado, galinhas caipiras e perus. Tudo que necessitávamos...
As primeiras lembranças são de farturas. Muito mel, rapadura, farinha, batatas, peixes e o baú de madeira que minha avó usava para guardar carne salgada que se encontrava sempre cheio. Ah, ia esquecendo, tinha as frutas, os pés de manga, de mamão e, principalmente, os de graviola, além dos coqueiros que cresciam nas baixadas próximas aos riachos. Fui crescendo e a fartura foi desaparecendo. Quando não dava mais pra viver bem nesse lugar, meu pai resolveu que deveríamos sair em busca de alternativas.
Deixamos tudo para trás e fomos para o Maranhão. Mudamos para uma área da região amazônica. Lá chovia de forma torrencial, provocando enchentes constantes nos igarapés.
A viagem foi uma aventura. Saímos do povoado onde morávamos montados em cavalos e fomos até a cidade de Ipu para pegar o trem para Teresina.
Lembro-me de vários acontecimentos dessa viagem, ou melhor, dessa aventura. Minha irmã Ivone quase fora deixada para trás. O trem já estava de partida quando um de meus tios a entregou para minha mãe pela janela. Chegamos a Teresina em uma tarde calorenta, como são todas as tardes naquela cidade. Vi pela primeira vez uma televisão. Fiquei encantado e muito curioso. Como uma pessoa podia caber ali dentro? Era 1970 e estava passando um jogo da seleção brasileira.
Passamos a tarde toda na Praça Saraiva esperando o ônibus para seguirmos até a cidade de Santa Inez, no Maranhão. Durante a viagem, o ônibus atropelou um boi, causando o maior alvoroço entre as pessoas. Mas enfim, chegamos sem maiores problemas.
Ainda pela manhã, partimos de Santa Inez para um povoado chamado Três Satumbas, não pergunte o porquê desse nome horroroso. Só sei que é um verdadeiro fim de mundo.
Lá fomos morar em uma casa de pau a pique, ou taipa como é conhecida na região, coberta com palhas da palmeira. Tive que fazer de tudo um pouco. Trabalhei na lavoura de arroz, fiz carvão, quebrei coco, pesquei, cacei, vivi muitas aventuras.
Para poder ajudar meus pais, comecei a trabalhar cedo, com sete anos de idade. Aprendi a plantar e a colher arroz, a quebrar coco (extrair a amêndoa) e a fazer carvão com suas cascas. Quando era época de coleta de laranja também estava por lá.
Além de fazer a coleta, eu levava um comboio de jumentos com cargas de laranjas para uma cidade próxima. Era tão pequeno que não conseguia montar sozinho, era necessária a ajuda de um adulto. Só podia descer quando chegasse ao destino. Para voltar, seguia o mesmo ritual.
Minha diversão preferida era subir nos pés de açaí, que por lá se chama juçara, e ficar brincando tal qual um macaco, pulando de uma palmeira a outra. Além do açaí, conheci outra fruta interessante, o bacuri, um pouco semelhante ao cupuaçu, porém com um sabor azedo e aroma marcante.
Para poder me divertir, tinha que ludibriar meus pais, que com cuidado extremo não deixavam que saíssemos para a mata, pois era perigoso devido à existência de animais silvestre como onças pintadas, sucuris e jacarés, por exemplo. Contudo, eu sempre dava um jeitinho de fugir.
Lembro-me como hoje que para poder ir pescar tinha que sair às escondidas. Passava dias e dias colocando azeite de coco babaçu no ferrolho da porta da cozinha para poder abri-la sem que meus pais percebessem. De madrugada eu fugia e deixava um recado com alguma pessoa dizendo que ia pescar. Voltava com um cofo (espécie de cesto feito com a palha do babaçu) cheio de peixes. Minha mãe verificava se estava tudo bem e me punha de castigo para eu não repetir o feito. Era tudo em vão. Na pescaria seguinte eu era o primeiro a me apresentar.
Outra coisa que eu gostava de fazer era ir até o engenho e ficar olhando o trabalho. Era como relembrava o passado recente. Além disso, era a oportunidade que tinha de provar a cachaça ou a rapadura quente, que ali se produzia.
Sempre trabalhei muito, mas sempre fui e sou feliz, pois soube me divertir mesmo nas situações mais adversas.
Uma grande alegria animava todos nas noites de lua cheia. Os adultos sentavam na frente das casas e ficavam contando estórias. Já as crianças ficavam brincando de roda e cantando, enquanto os jovens escapavam para namorar. Parecia um ritual. Para os adultos, o café, a pinga e o cigarro de palha, para as crianças as batatas e o milho assado na brasa da fogueira e, os jovens, sumiam.
Morar no Maranhão parece que foi um castigo para toda a família, pois apesar da fartura que a terra oferecia, padecíamos muito com as doenças silvestres e, além disso, sofri um grave acidente.
Eu era um garoto muito curioso e persistente. Certo dia, resolvi pegar uma carona em um jipe. Até ai nada demais, o problema é que o dono do carro não sabia que eu estava escondido debaixo de umas palhas de palmeira que se encontravam na parte de trás do carro e ao mesmo tempo eu estava apavorado com medo de meu pai descobrir a façanha. Resolvi então descer. Só que não pedi para parar, simplesmente pulei. Acordei, três dias depois, cercado de pessoas. Não me lembrava de nada. Só sei que estava com uma fome tremenda.
Após este acidente, meu pai foi acometido por malária. Como isso, situação tornou a ficar insustentável, não podíamos mais continuar morando ali. Então minha mãe chamou meu pai e proclamou: ou você dá um jeito de sairmos daqui ou eu vou sozinha com meus filhos, você escolhe! O velho baixou a cabeça e resolveu que todos iriam para Teresina, onde já moravam duas irmãs de minha mãe.
Chegamos a Teresina em agosto de 1974. Em março de 1975, com doze anos e meio, eu entro pela primeira vez em uma escola e em março de 1992 sou o orador da turma de Química da Universidade Federal do Piauí. Nesse intervalo, passei um ano e meio sem estudar.
Em Teresina não fui apenas estudante, vivi muitas aventuras e desventuras, mas isso eu conto em uma próxima oportunidade. Estou cansado e bateu a melancolia, por isso estou parando.
Sei que posso parecer um personagem de Monteiro Lobato, mas é tudo verdade e é por isso que sou feliz. Por ter vivido e superado muitas situações adversas.
Tristezas que senti foram muitas. Desilusões, várias, mas baixar a cabeça, jamais. Não sou feliz por aquilo que me falta, mas sim por poder lutar a cada instante por dias melhores e saber que isso é possível.
Como minha história eu mesmo venho construindo, acho que, realmente, minha genealogia está em mim mesmo.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

A atmosfera terrestre


A atmosfera terrestre é única. Somente ela oferece condições para o desenvolvimento da vida assim como a conhecemos. Essa característica se deve à sua composição que difere bastante da composição da atmosfera dos outros planetas conhecidos até hoje.
Cada um de seus componentes exerce uma função especial, seja isolado ou associado a outro(s). Além disso, existem alguns componentes que se encontram em quantidades muito pequenas e conseqüentemente muitas vezes nem são citados nos textos científicos, embora desenvolvam funções sem as quais não seria possível a vida se desenvolver. É o caso do ozônio, O3, que filtra a radiação ultravioleta do sol evitando assim, que a Terra seja superaquecida por essa radiação. Ou os vapores de água e o metano, que juntamente com o gás carbônico, são alguns dos responsáveis pelo não resfriamento total da terra durante a noite, pois retêm o calor, formando uma espécie de estufa que “aquece” a vida. No entanto, as alterações provocadas pela a ação de organismos vivos, principalmente o homem, levaram a modificações na atmosfera que, aos poucos, foi adquirindo a composição atual e esta vem mudando bruscamente nas últimas décadas.
A atmosfera tem se mostrado muito frágil a tais mudanças e, para que essa fragilidade não leve a resultados desastrosos, vale a pena conhecê-la melhor, pois é sabido que os desenvolvimentos sociais, científicos e tecnológicos da humanidade não podem seguir rumos que levem à modificação da atmosfera a níveis inaceitáveis para a própria vida humana. Como sabemos, não é a Terra que está sendo destruída e sim alguns ecossistemas, inclusive o que é adequado ao homem. A Terra é um “ser vivo” que consegue se adaptar às mudanças sofridas ao longo de sua história. No entanto, não se sabe ainda até que ponto o homem suportará mudanças bruscas em seu meio ambiente.
Além de ser indispensável à vida, a atmosfera apresenta algumas propriedades que podemos utilizar para facilitar o nosso dia-a-dia, como a força dos ventos, que gera energia elétrica (usinas eólicas). Essas propriedades também podem impedir devastação, basta ser utilizada de forma racional para substituir o uso de combustíveis fósseis, uma vez que o seu uso não produz nenhum detrito.

sábado, 31 de maio de 2008

Amar amar

Abalar... amar.
Amar... acasalar.
Acatar... amar.
Amar... andar.
Atar... amar.
Amar... bancar.
Banhar... amar.
Amar... calar.
Cantar... amar.
Amar... dançar.
Falar... amar.
Amar... falhar.
Gamar... amar.
Amar... jantar.
Largar... amar.
Amar... lavar.
Malhar... amar.
Amar... marcar.
Pagar... amar.
Amar... parar.
Passar... amar.
Amar... ralar.
Saltar... amar.
Amar... vagar.
Vagar... zarpar.

sábado, 24 de maio de 2008

Meu nome é Hilário!

Muitos me perguntam por que meu nome é Hilário, outros cantam “hilariê”, já outros perguntam se sou casado com a “graça”. Nunca fiquei irritado ou chateado com isso. Quando minha filha tinha dois anos a música da Xuxa fazia o maior sucesso e sempre que eu chegava em casa ela começava a cantar para mim: “escuta pai tua música, escuta, canta comigo”, dizia ela em sua inocência feliz. Foi assim que eu passei a gostar da música, não pela música propriamente dita, mas pelo fato dela ter se tornado um canto de minha filha em minha homenagem.
Bem, meu nome sempre me intrigou. Como uma semi-analfabeta morando no sertão nordestino foi descobrir logo esse nome? Perguntava-me.
Certo dia, resolvi perguntar a minha mãe porque ela me deu esse nome. Sua resposta me surpreendeu. Primeiro meu nome deveria ser Ignácio, homenageando meu bisavô paterno. Depois porque nasci no dia de Santo Ignácio de Loiola e minha mãe sempre teve motivos para colocar o nome do santo do dia em seus filhos, pois é católica praticante. Mas então por que Hilário? Ou melhor, por que Antônio Hilário? Novamente a religião falou mais alto. Entenda por que.
Na localidade em que nasci todos os contemporâneos nasciam de parto natural feito por uma parteira e quando uma criança estava envolvida pelo cordão umbilical, “laçada”, como se diz na zona rural nordestina, tinha por tradição fazer a promessa de colocar o nome de Antônio ou Antônia, conforme o sexo. Assim Santo Antônio abençoaria a mãe e a criança e o parto seria normal, sem nenhuma complicação. Daí o Antônio. E Hilário, como justificar? Bem, como toda católica da época, minha mãe tinha o calendário com todos os santos para cada dia do ano. Ela descobriu que o dia 11 de janeiro é reservado a Santo Hilário, um Papa que foi beatificado. Mas isso só não era motivo suficiente. Ela procurou saber o significado do nome e deparou-se com alegria. Era tudo que esperava.
Meu nascimento era esperado com muita ansiedade, pois sou o primeiro neto, tanto por parte dos avôs maternos quanto dos avôs paterno e sendo o primogênito de meus pais, não poderia haver alegria maior. Daí Antônio Hilário. Eu preferia que fosse apenas Hilário, mas aceito como é, afinal os motivos podem não parecer nobres aos olhos de estranhos, mas me parecem dignos à cultura e ao amor que meus pais sempre demonstraram por mim.
E agora se quiser pode cantar “hilariê” a vontade.

O que somos nós

Participando do Projeto Escrevivendo Memórias, na Casa das Rosas, recebi, como todos os participantes, a missão, diga-se dever de casa, de escrever uma descrição de mim mesmo que pudesse servir como abertura de um blog. Eu que já não escrevo nada, fiquei cheio de receio e esse receio tornou-se pânico quando me deparei com os escritos dos demais participantes. Então é melhor desistir, argumentei comigo mesmo. Jamais serei capaz de escrever algo assim. No entanto, se eu desistir, perderei a oportunidade de compartilhar os belos trabalhos dos outros. Resolvi então escrever.
Aqui, o Eu que escreve vai tentar falar algo sobre o Outro do qual escreve. Começo dizendo que Ele é uma pessoa cheia de memórias. Memórias passadas que retornam à sua infância, época em que brincava debaixo das mangueiras e tomava banho no pequeno riacho, época que pescava, caçava e tinha gaiolas. Cresceu um pouco e, diga-se de passagem, que foi pouco mesmo, chegou a hora de ir à escola. Lá fez novas amizades e deslumbrou um horizonte cheio de indefinições. Foi também na escola onde deu o primeiro beijo, uma sensação incrível de liberdade e afirmação. Terminando o primeiro ciclo, teve que mudar de escola, foi estudar longe de casa em uma escola grande. Novos professores, novos amigos e, principalmente, novos desafios. Lá teve as primeiras aulas de laboratório. Nossa! Como é inteligente essa professora! Não assistia à aula, vislumbrava a fala, os gestos, a roupa, os calçados da professora. Não ouvia sua voz, aquilo era mais um canto que o embalava e o deixava em estado de êxtase total. Foi nesse período que começou a colecionar álbuns de figurinhas e a ler as revistas do Zorro, e do Tex Willer e algumas, digamos, proibidas para sua idade.
Chegou a hora de ingressar no ensino médio, digo, no científico e de trabalhar. Aí surgiram os primeiros contatos com as noites e as farras joviais. Toda sexta-feira era dia de encontros com a sua turma. Muita cerveja e muito papo. Veio também o danado do cigarro. É tão difícil parar de fumar. Quando se deu conta estava na universidade. Lá namorou, casou e teve dois filhos. Foi um sofrimento terrível, separou-se e saiu pelo mundo afora em busca de novas aventuras.
Bem, vou falar agora um pouco sobre as memórias presentes, que são aquelas que o trazem ao contexto atual, que é uma eterna busca de novas afirmações. Nessa memória atual cabem principalmente seus filhos, pais e alguns poucos amigos. Foram seus pais que o impulsionaram em seus primeiros passos, ensinando-lhe a percepção de moral e ética, fraternidade e amor ao próximo, a lutar e a descobrir que o sol nasce para todos, embora muitos prefiram viver à sombra da vida. Poucas vezes Ele conversou com seu pai, no entanto o pouco lhe valeu muito. Já a memória que seus filhos lhe trazem é aquela que ensina que não basta aprender. Para ter continuidade deve-se travar uma nova luta a cada dia. Tem de interagir com o ambiente e com as pessoas. Deve-se construir outro seio familiar, o seu, e inseri-lo na sociedade da melhor forma possível. Melhorar o que aprendeu e compartilhar com os seus. É através dos filhos que se pode refletir sobre os erros que cometeu com seus pais e sobre que atitudes se devem tomar diante de cada situação nova. Um filho não é um simples troféu a ser exposto, mas mesmo assim deve ser “polido” a cada dia para que possa se tornar jóia rara.
Suas memórias futuras são as de hoje, pois estas são apenas projetos daquilo que Ele pretende ser, afirmados sobre reflexões acerca das memórias passadas e presentes ansiando um futuro presente que não sabe se virá. É essa memória que talvez Ele seja agora. E quais são minhas memórias? Minhas memórias são tudo que me fizeram relembrar estes aspectos da vida do Outro. É o estar aqui e ir mais longe, é o ir e voltar sem sair do lugar, preparando-se para que o Outro tenha melhores lembranças no futuro.
Além desses dois, existem vários outros Eus. Quais as memórias Desse que vocês vêem? Essa Eu não posso narrar sozinho, digam vocês mesmos. Pois afinal quem sou Eu? Não sei. O que podemos dizer é que somos Alguém que acredita que este mundo pode ser melhor, e será só depende de nossos Eus.
Meus Eus têm um armário cheio de arquivos do passado que são abertos de vez em quando em busca de explicações sobre o que foi e o que poderia ter sido se tivesse agido de outra maneira. Outro com arquivos que são preenchidos a cada dia com ações presentes e um terceiro, cheio de pastas vazias que serão preenchidas futuramente com as memórias que estão por vir.
Não temos medo do que seremos, mas nos apavoramos de medo daquilo que jamais poderemos ser. Somos felizes embora não vivamos sempre a sorrir. Choramos para desafogar as tristezas e aliviar a alma abrindo espaço para novas experiências. Cantamos a alegria e o prazer de estarmos aqui, se estivéssemos em outro lugar talvez chorássemos pela falta que esta vida nos faria. Vemos a vida como um torneio de futebol, se estamos na segunda divisão é por pouco tempo, não temos dúvida que seremos promovidos à primeira. Não somos melhores do que ninguém, mas com certeza somos melhores do que muitos, pois sonhamos sonhos que jamais serão sonhados por todos, sonhos que serão só nossos e sonhos que só serão nossos se sonhados com os outros. Sonhos são diferentes de devaneios, embora possamos estar delirando. Mas se nossa vida é um delírio para muitos, para Nós é um sonho que merece ser sonhado a cada instante. Quem sonha tem liberdade e quem é liberto pode sonhar sonhos melhores.
Então nos diga agora quem somos Nós, pois Nós mesmos não sabemos.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Não mude o mundo. Mude de atitude.

O nosso mundo é complexo. Meu Deus, por que isso acontece? Não poderia ser diferente? Muitas vezes nos sentimos perdidos, com vontade de mudar tudo à nossa volta. Pensamos que assim mudaríamos o mundo, tornando-o um lugar melhor.
Será que podemos fazer isso? Pense bem! O mundo ao nosso redor é bem maior do que pensamos. Ele é a conjunção de vários fatores. Não podemos impedir a queda das folhas no outono, nem o desabrochar das flores durante a primavera.
Realmente as árvores ficam “sem vida” no outono. Isso para nós, pobres humanos, que não somos capazes de entender a dinâmica da vida, parece o fim. Mas se elas não perderem as folhas maduras, não poderão florescer na primavera. É assim com nossa vida. Pense nos altos e baixos como se fossem as estações do ano.
No verão é o maior alvoroço. O sol aquece tudo na Terra, agitando todo tipo de ser vivo. Preocupamo-nos com o aspecto físico. Precisamos parecer bonitos naquela roupa de praia, na camiseta básica... Mostrar a todos que estamos em boa forma. Praticamos esportes e fazemos dietas mirabolantes. Somos capazes de tudo para parecer bem e, às vezes, apenas parecemos. Sinto muito, também sou humano.
Vem o outono. Acabaram-se as férias. É hora de recomeçar o trabalho duro. Afinal, temos contas a pagar. Gastamos muito durante o verão, muitas vezes até sem poder. Fomos enfeitiçados pela mídia maravilhosa. Será que somos consumistas? Mas tudo bem, os meios justificam os fins. Divertimo-nos.
Esquecemos os esportes e as dietas. Até parece que somos como as árvores. Nossas lindas folhas amadurecem e precisam cair. No fim da estação já estamos com a pele seca e nos encolhendo para esperar o inverno.
Chega o inverno. Ah, o inverno! Aquele fondue, um bom vinho. Vou me encolher. O frio não deixa sair de casa. Esporte? Só se formos até os Alpes! E a dieta? Não consigo, parece que sinto mais fome. Precisamos nos nutrir. Nas árvores brotam folhas novas. O solo precisa estar adubado. E as folhas que caíram durante o outono? É o adubo.
Será que vamos florescer na primavera? Afinal, somos apenas árvores? Não, as folhas que nos cobrem não se transformam em adubo.
É primavera. As árvores florescem. E nós? Sentimo-nos culpados por aqueles quilinhos a mais que ganhamos durante o inverno. Onde estão as flores?
Começamos a planejar a ida à academia de esportes, limpeza de pele...
—Você viu aquela dieta que saiu na revista? Dizem que é ótima.
—É mesmo? Preciso perder peso, o verão vem aí.
E esperamos para desabrochar novamente no verão. Ah, verdade! Não somos árvores. Se fôssemos, floresceríamos na primavera.
Bem, já que não somos como as árvores, podemos mudar o nosso mundo, não podemos?
É verdade, podemos mudar o nosso mundo. Mas lembre-se: devemos mudar o nosso mundo e não querer mudar o dos outros. Ou seja, cada um deve mudar o seu mundo, assim mudaremos o mundo todo.
Pense agora que você é uma árvore. Mas não pense apenas nas estações do ano e sim em todo o seu ciclo de vida.
Sua concepção e seu nascimento é resultado de um amor bem cultivado entre seus pais. O amor é a abelha que poliniza a continuação da vida. Você é uma semente que germinou em solo fértil.
Para crescer, você recebeu uma alimentação farta e nutritiva. A melhor que seus pais podiam lhe oferecer, pode ter certeza. Mas não bastava fortalecer o tronco, seus galhos e ramos queriam se estender por todo o campo.
Para atingir o sol da liberdade faltava algo e eles lhe ensinaram a trilhar os caminhos da sabedoria. Desejavam ver você crescer forte e robusto, cobrindo todo aquele campo fértil no qual nasceu. E você cresceu maravilhosamente, tanto que seus galhos chegaram às margens de outro campo. Já não tinham mais poder sobre seus atos. Agora era com você.
Estava quase florescendo quando veio a tempestade, retorceu suas folhas e quebrou-lhe o galho mais frondoso.
É hora de pedir ajuda àqueles que sempre lhe apoiaram: seus pais. Que pena! A tempestade os destruiu. E agora? Você está sozinho, o que fazer?
—É o fim.
—Claro que não!
Certamente muitos lhe dirão que tudo acabou que é melhor desistir. E talvez você até concorde com eles. Mas, e seus pais? Fizeram tudo em vão? Foi esforço perdido? Será que eles desistiriam fácil assim? E os sacrifícios que tiveram que enfrentar para lhe tornar tão robusto? Lembre-se que quando seus galhos atingiram novos limites, era você vivendo sua própria vida. Seus pais já lhe deram tudo que podiam. Agora é sua vez. A vida é sua. Viva-a.
É hora de amadurecer e se preparar para assumir a bússola de sua vida. Não se deixe levar pela tempestade. Use sua força e, principalmente, sua sabedoria. Recorde o que ocorreu com outras árvores que se deixaram levar pela desilusão do abandono. Onde elas estão? Não espere que os outros façam as coisas para você. Olhe em volta. Estão todos ocupados. Estão se recuperando. Cada um passou por sua própria tempestade. Mas veja em volta daqueles que estão reagindo, o solo já se encontra florido e suas folhas sopram levadas pela brisa leve. É calmaria.
Aproveite que o céu está limpo, o solo úmido e adubado. Afinal, após uma tempestade vem sempre a bonança. Abra suas folhas, se deixe experimentar novos ares. Uma nova vida pode surgir.
O que lhe falta? Alimento? Busque-o. Levante suas raízes. Você é livre. Procure novos campos para se fixar. Você é apenas uma árvore?
_ Eu queria ser uma árvore. Não uma árvore qualquer e sim aquela mais frondosa, cheia de flores e frutos, com uma imensa sombra para aconchegar a todos que buscam abrigo.
_ Opa! Quase me esqueço de você. E aí, como vai ser? Vai apenas deixar seus galhos secarem, o tronco apodrecer e cair ao mais leve soprar dos ventos?
_ Coitado! Agora devo sentir dó?
O homem é um ser diferente. Deus fez o homem o único ser racional e dotado de livre arbítrio, para que ele possa traçar seu próprio destino.
A razão permite encontrar alternativas e soluções para cada situação. Mas é o livre arbítrio; esse sim, que permite ao homem fazer as suas escolhas. Contudo, sabemos que dentre suas opções, a pior de todas, o maior pecado é, sem dúvida alguma, desistir. Isso sim é se igualar, por baixo, a um vegetal. Você é uma árvore? Somos todos árvores infrutíferas? E o sonho de mudar o mundo, acabou no primeiro obstáculo? Pois não mude o mundo. Mude apenas de atitude.
_ Se você não reagir, vou morrer. Preciso do néctar de suas flores. Floresça.
Muitos morreremos. Todas as abelhas que dependem das flores para se alimentar.
_ Floresça e torne o seu, o meu, o nosso mundo melhor, apenas mudando de atitude.
_ Hein, veja! O pássaro quer fazer um ninho entre seus galhos. A minhoca alimenta-se de suas folhas caídas. Acorde, você é importante!
_ Ufa! Ainda bem que resolveu mudar. Veja quanta vida se formou em volta de você. E nem precisou mudar o mundo, quem mudou foi você.
Às vezes achamos que o mundo está errado e ficamos a reclamar, sem nada fazer. Temos a mania de acreditar que apenas as grandes atitudes provocam mudança. Mas não, pequenas ações podem mudar tanto quanto as grandes.
Reflita: quantas gotas formam os oceanos? Muitas. Uma gota só é incapaz. Mas imagine se cada gota de água resolvesse evaporar, os mares secariam. São as pequenas coisas que fazem a diferença.

domingo, 11 de maio de 2008

Primeira postagem!

Estou estreando no ciberespaço.

São Paulo

Cidade cheia de cantos.
Cada canto
um encanto,
um desencanto.
tantos encantos
tantos desencantos.
Prefiro o encanto
do canto cantado naquele canto.
Canto saudades,
canto amizade.
Canto o canto cantado
da cidade que me encanta.